Uma estranha maneira de viver

Acordei, e parecia-me estar a ouvir-te, serias tu? não sei...mas essa hipótese assustava-me e cada passo que dava para me deslocar…era uma tortura!

Finalmente vejo a luz do dia, será mais um dia como tantos outros, rodeada de confusões, de assuntos sem pés nem cabeça, de más interpretações e talvez alguns quebra-corações.

Agora já estou rodeada de pessoas, mas o barulho ensurdecedor da solidão enlouquece-me… agora já não te oiço…logo agora que era quando mais precisava de te ouvir.

Os segundos, os minutos, as horas vão passando….mas mais nada segue em frente…continua como sempre, tudo em stand by.

Ficarei contente por voltar para o meu refúgio ou descontente por saber que lá mais stress virá? Não sei…mas também não existem outras hipóteses, terei de voltar para lá.

Entro no transporte que tantas vezes me apetecia que não tivesse destino, mas tem…e até lá o meu rosto permanece igual…cabisbaixo.

Cheguei ao destino …já faltou mais para o dia acabar.

Entro e tento desde então abstrair-me de tudo que está à minha volta, pois só assim consigo reunir forças até o dia acabar.

Ligo o computador, procuro alguém que me leia mesmo sem eu escrever, que me oiça mesmo sem eu falar.

Chamam-me, mas a minha vontade é não responder, humilham-me, e a minha vontade acaba por ser mais uma vez desaparecer.

Vejo olhares tristes, corpos cansados…mas sinto-me sem forças para vos fazer renascer, não me peçam o impossível, para vos ajudar deixem-me sozinha, deixem-me ajudar-me a mim própria já que ajudar-me para vocês é complicado demais.

Vou jantar…mas a minha vontade é sair daquele sitio rapidamente, já não suporto ouvir mais más línguas, de ingratidão, de descobrir o que poderia ter vindo a ser.

Vem me pedir favores, auxilio, e eu quero tanto ajudar, mas onde estão as forças? A minha vontade acaba por ser, dizer que não dá, que não posso, que não consigo, para sentirem o desamparo que também eu sinto e que tive de me habituar até hoje, mas não entendem, ninguém me percebe!

E assim acabo sempre por ceder, pois a minha boca já mais nada consegue dizer, estou cansada de apenas eu me compreender!

Vem lamentar-se aos meus ouvidos quando o que mais preciso é de optimismo, vem dizer que “isto não é viver”, então que direi eu quando me sinto a desfalecer. Dizem “sorte de quem não nasce”, mas ainda acham que alguém vive? A maioria das pessoas sobrevivem apenas e esquecem-se de viver, pelo menos à minha volta sempre foi assim. Chega….silêncio…já não posso mais ouvir tanto negativismo.

A noite finalmente chega, estou cansada…apetece-me descansar, mas não consigo…estou enjoada…por isso aproxima-se outra noite que pouco ou nada irei dormir, a pensar em como foi aquela morte e a pensar no que não devo.

Finalmente deito-me, já não há ninguém ao qual possa ver o meu rosto alegremente triste, por isso já não consigo enganar-me a mim mesma, cada vez faz menos sentido estar acordada.

Deito-me, e cada vez mais preciso de silêncio, mas os gritos de socorro e os choros de crianças atormentam-me todas as noites, mas que poderei eu fazer?!

Adormeço, o dia já passou…já foi, amanhã será outro dia em que tentarei viver, consciente que o meu objectivo principal será sempre sobreviver.